ENTREVISTA: Patricia Travassos fala sobre as leis de cotas para obras nacionais em sessões de cinema e TV paga
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sancionou no dia 15 de janeiro as leis que retomam as reservas obrigatórias para obras nacionais em sessões de cinema e canais de televisão paga. Segundo a Casa Civil, os textos foram sancionados sem vetos. Um dos projetos sancionados, referente ao cinema, restabelece, até o fim de 2033, a reserva para exibição de filmes brasileiros em salas de cinema. Já na TV, foi sancionada a lei que prorroga, até o fim de 2038, a reserva para produções audiovisuais brasileiras em canais de TV por assinatura, que foi criada em 2011 extinta em 12 de setembro.
Para elucidar melhor as leis sancionadas pelo presidente Lula, o Música e Mais conversou com a jornalista, diretora de cinema e especialista em inovação, Patricia Travassos. Confira a entrevista:
Patricia, qual a importância das novas leis de cotas de tela no cinema e na TV paga, sancionadas no último dia 15 pelo presidente Lula?
Eu, particularmente, acho que qualquer medida de estímulo à cultura é bem-vinda. Se, por um lado, a identidade de um país depende da democratização da arte, por outro, ainda precisamos incentivar a formação de público para obras produzidas aqui sobre a nossa realidade e também sobre os nossos sonhos. Queremos ter nossa voz ecoando e a lei de cotas é um passo importante nesse processo. Obviamente, não é o único e, portanto, não resolve todos os problemas.
O cinema pós-pandemia vive uma nova fase. O público ainda não retornou às salas com a frequência de antes e os próprios exibidores estão precisando se reinventar para atrair a plateia. Nesse sentido, ter produtores de filmes por perto para criar diálogos com a audiência e transformar as exibições em eventos pode ser outro caminho para dar mais espaço para a produção nacional nos cinemas e a lei de cotas pode estimular esse contato mais estreito.
Antes da aprovação, quais os problemas enfrentados pela classe?
Na minha experiência como produtora audiovisual, tenho conseguido, com o apoio de leis de incentivo à cultura, atrair patrocinadores e realizar documentários autorais que refletem sobre questões universais e também revelam um Brasil pouco conhecido pelo próprio brasileiro. Todo processo de produção até o filme ficar pronto está “redondinho”. A gente aprova o projeto em Lei, apresenta para empresas que se interessam pelos temas abordados, capta recursos, pesquisa, grava, edita, finaliza. Mas quando chega na hora de distribuir, a gente sofre. É aí que nós podemos nos beneficiar da lei de cotas, espero. Não há garantia, mas aumentam as chances de o nosso filme ter mais espaço de exibição.
Como uma profissional do meio jornalístico e do cinema enxerga essa nova fase com retorno em curto ou longo prazo?
Na minha opinião, o retorno só chega no longo prazo, com certeza! Nenhuma transformação cultural acontece rapidamente. Estamos falando de mudança de hábito. De despertar interesse e conquistar a confiança do público para o conteúdo nacional. Se olharmos para a experiência de outros países com esse tipo de estímulo, vemos que a jornada é longa e exige consistência. Mas, a exemplo da Coreia do Sul, da França e da Espanha, vemos que esse tipo de política pública (em cada geografia, com suas particularidades) fortalece a indústria não só para que ela se destaque localmente como também no mercado internacional.
Acha nova lei pode estimular a produção de mais conteúdos de cinema fora do nicho da comédia para o cinema?
Acredito que a medida serve para todos os gêneros. Sabemos que o brasileiro vai ao cinema para ver comédia nacional e não perde nenhum episódio das séries de “true crime” no streaming. Entre um extremo e outro, existem mil maneiras de sensibilizar o público com boas histórias. A lei de cotas pode dar mais visibilidade para a criatividade brasileira.
Para finalizar, você é uma jornalista e diretora de cinema bastante reconhecida no mercado. Onde o público pode ter acesso aos seus trabalhos?
Cada filme tem um caminho, mas procuramos disponibilizar todos no Youtube, exatamente para dar acesso às nossas produções.
Em breve, anunciaremos uma cine-semana do nosso mais recente lançamento, o Singulares.
Enquanto isso, assistam:
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Ecossistemas de inovação – disponível no Youtube, na BoxBrazil e na DocstationPlay;
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Inovar é um parto – disponível no Youtube, na Globoplay, na Looke, na BoxBrazil e BandPlay
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Educação presente para o futuro – disponível no Youtube, na Globoplay, na Looke, na BoxBrazil e BandPlay
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Inspira – disponível no Youtube, na Looke e na BandPlay
Por Robson Cobain