Nesta terça-feira (3), mais dois singles do álbum Solar – Sun Ra in Brasil, da produtora Red Hot Organization – que, desde 1990 – une mídia e música em favor de transformações sociais, serão disponibilizados nas plataformas digitais. “When there is no Sun”, encontro mais que especial entre Xênia França E Tiganá Santana e “Brainville Dazidéia”, que traz outros dois expoentes da música brasileira, BNegão e Max de Castro. Xuxa Levy, produtor musical do álbum o descreve como a conexão entre o futuro e a ancestralidade do povo negro. Sobre os singles ele nos traz uma verdadeira time-lne das suas construções:
When There is No Sun
Tiganá Santana (compositor, cantor, poeta, professor e uma sumidade em cultura afrobrasileira) abre esse áudio filme de ficção cientifica com a delicada poesia de Sun Ra “I Wait 4 You”, abrindo o portal para essa mítica canção que fala sobre o mar eterno de escuridão (que significa a onipresença da cultura negra no universo).
O arranjo cinematográfico de Xuxa Levy inicia com delicados Handpans (Instrumentos de metal que parecem discos voadores, cuja sonoridade lembra os Steel Drums caribenhos) em escalas japonesas, interpretada pelo especialista Alexandre Lora e abrindo espaço para a voz mágica de Xênia França em interpretação única, densa e suave, que te leva, como uma narcose para o espaço sideral. Um crescente de cordas (executado em vários canais pelo cellista Jonas Moncaio) suspende a canção para uma preparação apoteótica, que explode num freejazz total, onde os músicos Fabio Leando (Piano Rhodes), Sidiel Vieira (Baixo Acústico) e Jotaerre (Bateria) se expressam com vigor, no bom estilo do Jazz Psicodélico dos anos 70, enquanto Tiganá Santana entoa a poesia afrofuturista de SunRa “The Outer Darkness” de 1972 com vocalizes suaves, que lembram as melhores fases de Milton Nascimento. Ao final do arranjo, essa viagem sideral termina com uma entrega ao vazio total, como que flutuássemos pelo espaço.
Brainville Dazidéia
Muitos consideram o tema “Brainville” como um dos grooves mais funkeados e dançantes do repertório da Arkestra (Orquestra fundada pelo maestro, que o acompanhou ao longo de sua vida e que segue forte e atuante até os dias de hoje).
Não por acaso, foi escalado para executá-la, um dos maiores artistas e arranjadores da música black brasileira: Max de Castro e uma orquestra pincelada a dedo por alguns dos maiores músicos da cena do hip-hop jazz urbano de São Paulo (a maior urbe da América do Sul)
O arranjo funde os ritmos afro-brasileiros ao tema do maestro americano, seguindo a tradição dos grandes arranjadores brasileiros dos 60/70 como Moacir Santos, Eumir Deodato, Erlon Chaves, Tom Jobim e tantos outros. Ao longo do tema, vale destacar o talento do jovem guitarrista Mackson Kennedy e a Cuíca (Instrumento brasileiro que parece uma voz humana) de China Cunha.
Para fechar o tema com chave de ouro, o consagrado MC carioca e importante expoente do movimento afrofuturista brasileiro BNegão se junta `a trupe e nos brinda com versos imortais que solidificam o discurso a que esse disco se propõe:
A construção de uma nova realidade a partir do som, do poder da música, trazendo luz para a humanidade, e principalmente para as comunidades periféricas no Brasil e no mundo.
Que essa luz ilumine todo planeta, trazendo mais integração, coletividade, e respeito entre todos que nele habitam.