Na próxima sexta-feira, 29, às 19 horas, na Estação Ferroviária de João Amaro, distrito do município de Iaçu, Cleidiana Ramos vai comemorar seus 25 anos de jornalismo. Na ocasião haverá o lançamento de Os Caminhos da Água Grande (2ª edição), em formato físico, e o ebook Cibervida, Cibermorte, Cibersorte.
Os Caminhos da Água Grande é um livro-reportagem sobre o município de Iaçu. A obra também celebra 25 anos, pois é o resultado do trabalho de final de curso da jornalista. Orientada pela professora Rosângela Vieira Rocha, escritora e autora de livros como Véspera de Lua, O Indizível Sentido do Amor e Nenhum Espelho Reflete seu Rosto, a grande reportagem está dividida em quatro capítulos: A Terra, O Fogo, A Água e O Ar.
A Terra aborda a formação do território de Iaçu a partir de informações contidas em documentos da Torre do Tombo reunidos por Valdemar Ferraro (1920-2005) e que tem como ponto de partida a sesmaria concedida ao capitão João Amaro Maciel Parente no contexto das chamadas guerras dos sertões da Bahia; O Fogo conta as histórias da condição de Iaçu como cidade e o movimento dos posseiros na década de 1970 que se tornou uma referência de organização; A Água mostra a relação intrínseca entre Iaçu e o Rio Paraguaçu que banha seu território. Em O Ar estão depoimentos de entrevistadas e entrevistados sobre o que consideram a saída para os problemas sociais e econômicos do município. Nesta segunda edição não houve alterações no conteúdo da grande reportagem de 1998, mas Cleidiana Ramos inseriu notas técnicas com informações atualizadas sobre algumas das histórias relacionadas no livro e correções de outras.
“Considerei que o livro foi uma fotografia daquele momento vivido por Iaçu em 1998 e que também diz muito sobre a minha primeira inserção no campo da reportagem. Portanto, decidi não fazer alterações significativas para dialogar com o texto jornalístico do início da minha carreira que devo confessar não está muito diferente da minha condição de agora, o que tem aberto espaço para muitas das minhas reflexões sobre a escrita e os gêneros dessa profissão pela qual continuo apaixonada”, diz a autora.
Experimentação
Cibervida, Cibermorte, Cibersorte é um exercício inicial de Cleidiana Ramos no campo da ficção. São histórias que a autora prefere não inserir em uma categoria de literatura. Elas são resultado de suas reflexões sobre Cibercultura e as tensões e as transformações que esse ambiente de transitar entre redes tem produzido nos relacionamentos humanos. As histórias têm como pano de fundo a pandemia de coronavírus, período em que elas foram sendo produzidas.
O livro, que será lançado em Iaçu no formato digital, conta a história de pessoas que tiveram as vidas profundamente transformadas pelo uso das novas tecnologias da informação e comunicação mediadas pela Internet. Mas à medida que a história avança ela vai revelando que transcende essas experiências individuais, pois os personagens e seus dramas são apresentados por uma divindade surgida na idade-tecnologia.
Cidadania, trabalho, vida, morte, fé e prática religiosa estão cada vez mais alteradas por conta das potencialidades oferecidas por essas novas tecnologias. Assim é possível engajar-se na defesa de um projeto de poder que corrói todas as suas escolhas morais por falta de capacidade cognitiva para interpretar informações que chegam em profusão por ferramentas como o WhatsApp. Mas também é possível que um oprimido use a combinação entre técnica e magia tradicional a seu favor. Cibervida, Cibermorte, Cibersorte está dividido em três capítulos: O Livro dos Demônios Incoerentes; O Livro dos Arcanjos Caídos e O Livro dos Encantados. Ao final de cada história há sugestões de músicas, séries e outras produções que tem algum tipo de conexão com as histórias.
“ Cibervida, Cibermorte, Cibersorte foi um mergulho dentro das minhas próprias referências em leituras e outras produções da indústria cultural. Tem um pouco de Black Mirror, do realismo mágico de Gabriel Garcia Márquez pelo qual sou fascinada, como também de Neil Gaiman, da fantasia e das reflexões sobre comunicação social. É a tradução do meu próprio sentimento de temor, fascínio, prudência e esperança em relação a essas novas formas de informação e comunicação”, afirma Cleidiana Ramos.
Projeto I-Omi
Para comemorar os seus 25 anos de jornalismo, Cleidiana Ramos desenvolveu o projeto I-Omi. A denominação é uma tradução livre para o elemento da língua tupi “I” que costuma ser traduzido como “grande” e Omi, da língua iorubá que significa água, o que para a jornalista une duas das suas referências territoriais: sertaneja e afro-brasileira. O projeto incluiu uma série de lives no Instagram, às segundas e sextas-feiras, desde o final de maio, pelo Instagram que reuniu jornalistas, pessoas que têm inspirado a vida acadêmica da jornalista, gestores da administração pública de Iaçu, dentre outros.
Uma campanha de crowdfunding hospedada no site Catarse permitiu a reunião de parte dos recursos para a publicação dos livros, realizados, portanto, de forma independente. O projeto tem também um site homônimo e conta com a parceria da Prefeitura Municipal de Iaçu.
“Cleidiana Ramos é filha de uma das pessoas mais ilustres de Iaçu que é meu amigo, Pacífico Teixeira Ramos, prefeito por duas vezes dessa terra, e de quem todos nós temos tanta saudade. É uma felicidade muito grande ter uma pessoa tão especial, como jornalista e escritora fazendo parte da vida dos iaçuenses. E estamos muito orgulhosos que ela possa comemorar essa data tão especial conosco”, afirma Nixon Duarte, prefeito de Iaçu.
Dentre as ações do projeto I-Omi, Cleidiana Ramos foi a facilitadora de um minicurso sobre história e cultura do Piemonte do Paraguaçu, território de identidade ao qual Iaçu está vinculado, para duas turmas formadas por professoras e professores da rede municipal de ensino. “Os festejos em comemoração aos 25 anos de Jornalismo de Cleidiana Ramos em Iaçu são de extrema importância, principalmente no que se refere a valorização da História do Povo desse município. Cleidiana traz através do belíssimo trabalho dela, a revelação identitária, também, das pessoas que aqui viveram, da formação territorial, dentre outros aspectos históricos que contribuem significativamente na valorização dos munícipes”, destaca Zene Santos, secretária municipal de Educação.
Outra secretaria parceira do projeto é a de Cultura, Comércio e Turismo de Iaçu. “Ter a oportunidade de celebrar esses 25 anos de jornalismo de Cleidiana Ramos em Iaçu é um marco não apenas para nós, do presente, como para as futuras gerações. É uma amostra de que é possível se dedicar àquela profissão que se escolheu e para a qual há tanto empenho como acontece com ela. E, para Iaçu, ter Cleidiana Ramos divulgando as suas histórias é um ganho para que mais pessoas conheçam essa terra tão bonita cercada de um rico patrimônio cultural e ambiental”, diz Eziquiel Santos, titular da secretaria.
Bio
Cleidiana Ramos nasceu em Cachoeira, mas cresceu em Iaçu, município do território de identidade Piemonte do Paraguaçu. Ela é jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-Ufba), mestra em Estudos Étnicos e Africanos pelo programa mantido pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Ufba (Pós Afro) e doutora em antropologia pela mesma instituição (PPGA- Ufba).
De 1998 a 2015, ela integrou a equipe de reportagem do jornal A TARDE de onde foi repórter especial e especializada em religião, culturas e cobertura étnico-racial. De 2003 a 2015 participou da concepção, reportagem e edição dos especiais para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, projeto vencedor de prêmios como o Prêmio Banco do Nordeste (2009) e Abdias Nascimento (2013).
Atualmente, Cleidiana Ramos tem se dedicado ao magistério no ensino superior. É professora visitante no Campus XIV da Universidade do Estado da Bahia, localizado em Conceição do Coité. Suas pesquisas são no campo da Antropologia da Festa, Antropologia das Religiões, Cibercultura, Jornalismo Literário e Web Jornalismo.
Cleidiana Ramos coordena A TARDE Memória, um projeto multimídia do Grupo A TARDE com inserções em A TARDE FM, Portal A TARDE e Jornal A TARDE; e REC, um programa hospedado no Youtube. Além disso está realizando a curadoria do acervo do Cedoc A TARDE.