Já ouvi falar no ditado “o crime não compensa”? Pois é bem por este caminho que Djalma, personagem de Chay Suede, vai no longa “A Jaula”, nova produção cinematográfica nacional, que traz drama e suspense para as telonas, repleto de reflexões para quem for assistir.
Em “A Jaula”, Djalma, um ladrão, vê a oportunidade de roubar mais um carro em São Paulo. Seu alvo é um carro de luxo de encher os olhos. Ele consegue entrar no veículo, retirar o que deseja, mas percebe ao tentar sai que todas as portas estão travadas. Daí começa uma desesperada tentativa de conseguir sair, até perceber que foi trancado de propósito pelo dono do carro, um médico (Alexandre Nero), que já foi assaltado diversas vezes e é extremamente revoltado com a impunidade no país. A partir desta revelação, se inicia uma batalha por sobrevivência regada a terror psicológico trazendo ainda mais questionamentos ao expectador.
Depois da revelação do que está acontecendo, a trama, uma adaptação do argentino “4×4” (2019), segue de forma crescente. Mesmo com tudo acontecendo dentro de um carro, apenas com o auxílio do cotidiano da rua em que ele se encontra estacionado, ele passa longe de cair na monotonia. A aflição de Djalma para tentar sair se une à fome e sede, virando algo caótico. Os diálogos entre o assaltante e o médico entregam quase que uma sessão de terapia com as sequências de desabafos, principalmente do doutor. É algo totalmente emocional, vulnerável, onde a ética é posta em cheque. Uma variante de Jogos Mortais da vida real, que te deixa aflito para saber qual o próximo passos de cada personagem.
Com um roteiro muito bem desenhado por Mariano Cohn e Gastón Duprat, “A Jaula” traz também como um importante elemento o jornalismo sensacionalista. Bem ao estilo que você pode ver ao ligar a TV na hora do almoço ou fim de tarde, uma apresentadora, bem representada por Astrid Fontenelle, está ao vivo tirando até a última gota de “entretenimento” do caso, que neste momento já envolve a polícia, com negociação conduzida de maneira fria pela especialista vivida por Mariana Lima, outro grande acerto do diretor João Wainer.
Questionando ética e direitos humanos, só para citar alguns pontos chave, a palavra que mais define tudo que acontece em “A Jaula” é reflexão. É sem dúvidas uma das produções mais surpreendentes que o cinema nacional apresentou nos últimos temos e deve servir de material para muitos debates. Um filme totalmente necessário.
Por Robson Cobain