A Acervo Galeria de Arte, no Caminho das Árvores, abre ao público, até 20 de dezembro, a exposição “Espelho D’Água”, a primeira individual do artista visual Igor Rodrigues na Bahia. Apontado como um dos destaques da SP-Arte em 2022 e da ArtRio em 2023, o baiano traz, nesta curadoria de João Victor Guimarães, um pouco da sua relação com o mar de Salvador e tudo o que ele representa em termos de memórias afetivas.
“O mar no seu trabalho surge como retrato de movimento, liberdade e imensidão. Na mesma medida, distância, encantamento, busca, aproximação e acolhimento. Além das ondas íntimas que se revelaram na sua cabeça, o universo aquático tinha uma distância muito especial: residia em Salvador o mar e, nele, estavam belas memórias afetivas. E a memória nada mais é do que um sonho por encontrar o que reside n’algum ponto da nossa construção enquanto indivíduos, seres, corações”, contextualiza o curador sobre a mostra, que reflete o momento mais atual do artista.
O artista
O trabalho de Igor Rodrigues é um “exercício de tempo, labuta, construção técnica e visual, num contexto de intensas movimentações decorrentes das batalhas perenes de diversos movimentos sociais”, explica Guimarães. Segundo ele, o trabalho do artista se desdobra em consonância com movimentos intensos, árduos e belos a partir de 2019, quando ele começou a se afirmar como artista e homem negro, no auge das discussões sobre democracia, representatividade e direitos humanos.
“Em uma consonância muito íntima com o mundo que ruía e se reerguia à sua volta, Igor Rodrigues acolheu aquilo que nosso entorno lhe apontava como defeito ou empecilho: suas ‘ondinhas’ no cabelo. Os cachos. Ondas de coroas e belezas que sabiamente carregamos”, contextualiza o curador sobre o artista.
As primeiras referências técnicas do artista remontam ao artesanato, na figura de sua avó Lilita, que fazia bonecas de sabão e foi fonte do conhecimento técnico e artístico. O neto, que desde criança gostou de Arte, teve a partir dela seu primeiro contato com materiais que se desdobram em algo antes impalpável. Neste sentido, o fazer manual se revela como base do trabalho de Rodrigues, que se debruça sobre o mundo que vê e responde à visão estimulando-a entre o familiar e o futuro imaginário (desejo).
Do ponto de vista técnico, o artista encontrou a pintura digital seguida pelo material grafite até desaguar nas materialidades que hoje vemos: tinta óleo, carvão, vidro, areia e, naturalmente, água. Em termos temáticos, em todo esse intenso movimento da sua infância até a vida adulta, existem diversas camadas sociopolíticas, mas também individuais, com seu interesse por psicologia e pela subjetividade se revelando fundamentais para sua ação artística e humana.
Desde o entendimento da sua avó como fonte do conhecimento técnico e artístico até os trabalhos que vemos aqui, “é toda a construção de uma vida que está tentando reverberar através do meu trabalho”, afirma o artista, que traz um pouco da sua história na arte nesta exposição mais atual, em Salvador. “No limite da terra, no azul que nos habita, banhamos e trazemos crespos cachos que sussurram o marulho. Temos ondas na cabeça e carregamos, com leveza, o mar”, finaliza o curador.
Foto: Renan Benedito