CINEMA DESTAQUE

ENTREVISTA: Emerson Dindo, fundador da DiALAB

Desenvolvimento de carreiras, consultoria de projetos e networking para profissionais negros do audiovisual. Este é apenas um resumo de um mundo de possibilidades que a DiALAB oferece para o mercado, que surgiu na Bahia e vem ganhando o mundo através de parcerias e uma gama de atividades realizadas, como workshops e festivais. Para saber um pouco mais sobre a empresa e também o cenário atual no país, o Música e Mais bateu um papo com Emerson Dindo, fundador da empresa ao lado de Leandro Santos. Confira:

Primeiro, Emerson, eu queria saber como é que surgiu, o que é o DiALAB e como é que ele surgiu?
Para mim é sempre bom falar sobre isso. Meu nome é Emerson Dindo, natural de Feira de Santana, mas moro em Salvador há algum tempo. Antes de vir para Salvador, passei por outros lugares, como o próprio Recôncavo Baiano, morei na Argentina, voltei para o Brasil e estou aqui desde então. Para falar do Dialab, eu preciso falar também um pouco da minha trajetória. Como eu te falei, eu nasci em Feira de Santana e eu me graduei em Administração de Empresas com habilitação em agronegócio. Então, antes de vir para o universo da criatividade, da audiovisual, das artes, eu trabalhei inicialmente em fazenda, trabalhei com agricultura e só depois migrei. Já existia um desejo, durante minha graduação já frequentava festivais de cinema, já frequentava atividades relacionadas ao setor. Mas, quando eu decidi fazer a transição de carreira, eu comecei a perceber algumas dificuldades especificamente. Quando eu comecei a procurar cursos de formação, percebi que ainda não existia uma oferta tão grande. Os cursos que existiam, estavam fora do salário da Bahia e eram muito caros para conseguir se manter, mudar para São Paulo e por aí vai. Aí eu percebi que existia, além dessa escassez, uma oportunidade para empreender dentro desse setor, que era pensar em como ofertar cursos, formações para a minha comunidade, em especial a comunidade negra, que naquele momento, eu estou falando de 10, 15 anos, não existia uma possibilidade real ainda de formação. Existiam poucos cursos de formação nesse período, acho que a Universidade Federal do Recôncavo, a FTC, a Universidade São Jorge já existia. E aí, ainda no Recôncavo, quando morava na região de Cachoeira e São Félix, a gente começou a imaginar um projeto que inicialmente se chamava Recôncavo Economia Criativa, virou Doc Master, depois Diaspora Conecta, Diaspora Lab, até chegar ao DiALAB. Esse ano vamos para o oitavo ano de atividade e estamos felizes por isso.

E muita coisa aconteceu nesse período, com certeza…

Durante esse período, o projeto cresceu bastante, frutos de muito trabalho, de muita dedicação, uma rede de parceria e apoio muito grande, a gente falando de instituições parceiras dentro e fora da Bahia, do Brasil… Então, o DiALAB começa assim, e nossa primeira atividade aconteceu em Salvador e Cachoeira, simultaneamente. Realizamos um ciclo de conferências, workshops e cursos de formação. No primeiro laboratório, nos reunimos em Cachoeira durante uma semana, próximo às diversas partes do Brasil. Estou falando da Bahia, Goiás, do Ceará, de Pernambuco, de Sergipe, e isso foi muito interessante, porque  já percebemos que existia uma força muito grande, do ponto de vista narrativo, mas que, por vezes, a gente precisava. Essas pessoas que estavam em nosso laboratório, elas precisavam, muitas vezes, de um fundamento e de oportunidade para conseguir desenvolver melhor as suas histórias. E o DiALAB começa assim, como um projeto da minha produtora, a Portátil, da qual eu sou sócio do Leandro, que estudou cinema em Cachoeira e Cuba, e se especializou em roteiro lá, volta para o Brasil em 2017, e desde então a gente está tocando a plataforma.

E como é que foi a curadoria para esse primeiro laboratório de vocês? O que é que vocês passariam, quais oficinas havia nesse laboratório, como é que foi feito o processo de filtragem para poder apresentar esse laboratório?

Nessa primeira edição, quando eramos de Áspera Conecta, a gente sabia que queria dialogar com o público profissional, dialogar com uma audiência mais ampla de pessoas que não necessariamente são profissionais, mas pessoas do dia a dia, que têm interesse no cinema, artes ou discussões variadas. Tínhamos também um público mais jovem, que ainda não era do cinema ou das artes, mas que tinha o interesse de conhecer um pouco melhor sobre o tema e encontraram nos cursos da Escola de Áspera um primeiro espaço para experimentar e a partir daí tentar traçar a sua trajetória. Veio também a conexão com levar esse projeto também para a comunidade negra, incluí-la nesse processo, né? E a comunidade negra está dentro do processo desde a Gênesis, partindo do pressuposto que eu sou um homem negro da cidade do interior, então tem um caminho aí que muitas vezes é um pouco mais longo. Eu já sabia desde o início que a comunidade negra era nosso público majoritário. Toda estrutura é pensada, desde então nessa comunidade. Com relação à curadoria dessa primeira edição, foi muito interessante porque nós tínhamos três eixos complementares, mas que dialogavam com públicos diferentes. Nas conferências nós queríamos dialogar com esse público mais especializado, profissionais, mas também queríamos chamar o pai de família, o jovem, queríamos falar com a dona de casa, com professora de literatura, que queria ouvir sobre, por exemplo, a interpretação, como é atuar, como é que uma mulher negra atua no cinema, quais são as dificuldades, os desafios, principalmente como chegar a ter esse lugar.

Então, deste ponto foi feita a seleção?

No caso do laboratório, abrimos uma chamada para a região. Na primeira edição foi para o que a gente chama de região do cone, que é norte, nordeste e centro-oeste, e nós recebemos projetos desses três grandes territórios. Convocamos uma comissão de seleção, que foi selecionando projetos que, de alguma forma, refletiam um pouco do espírito do nosso laboratório e que tinham potencial de crescimento e desenvolvimento dentro da estrutura que oferecemos. Os workshop foram muito interessantes, porque ao longo dos anos realizamos cerca de 10 ou 12 turmas, mas na primeira edição realizamos uma oficina de desenvolvimento de roteiros, com a professora Barbosa, e um curso chamado Tempo Negro, que era pensado mais para pensar a curadoria nas artes visuais, com a Diane Lima, que é uma das nossas grandes curadoras de artes do Brasil, nascida em Mundo Novo, mas que mora no trânsito, mas tem base hoje em Salvador, foi curadora da Bienal e viaja o mundo todo. Nessa primeira edição foi muito interessante, porque ela nos marcou profundamente e deu base para que chegássemos até aqui, em alguma medida. 

Como é que foi conseguir parceiros no começo? Foi difícil para vocês conseguir pessoas que apoiassem o projeto? 

É um desafio, sim! Acho que porque temos algumas camadas. Primeiro, porque nós termos, às vezes, que conseguir recursos para projetos culturais, artísticos é um desafio e por ser um projeto direcionado para uma comunidade sub-representada, a comunidade negra, é um outro desafio. Têm questões geopolíticas também, de localização. Mas, na primeira edição, conseguimos o apoio de um edital do governo do Estado, onde está a pessoa física, que nós ganhamos, e aí, somado com outros apoios, conseguimos realizar essa primeira edição. Ao longo dos anos, estamos entendendo que precisamos antecipar muito para conseguir captar recursos e conseguir planejar o festival. Hoje ele funciona em modelo de festival e acontece em dezembro, mas antes de acabar o do ano anterior,  já começamos a trabalhar. Então, é um ano todo trabalhando, ou até mais, para conseguir realizar. Temos feito um trabalho de captação sempre antecipado, mas, ainda assim, é um grande desafio.

Até porque, enquanto vocês estão realizando um, vocês já vão ver o que deu certo, o que precisa ser ajustado… Já entra no trabalho do próximo ano, não é? 

Com certeza, com certeza! Já está trabalhando para a edição de 2025. Estamos no finalzinho de um processo de consultoria que vem passando ao longo do ano. Uma coisa muito interessante também que eu queria compartilhar, é que o festival começou com um projeto dentro da produtora, mas foi ganhando corpo ao ponto de merecer um modelo de negócio em uma estrutura separada. Então, é um filho que cresce, fica maior de idade e deseja sair de casa para conseguir expandir. É isso que estamos vivendo hoje com a plataforma de Lab. E aí, nessa consultoria, estamos tentando entender qual é o futuro do festival, para onde vamos e o que vai fazer sentido daqui a dois, três anos. Há uma preocupação muito grande com isso, de entender que talvez o que fazemos hoje, daqui a dois, três anos, não tenha a mesma repercussão e não tenha o mesmo impacto. Então, se isso acontecer, precisamos começar a trabalhar antecipadamente para que, quando esse futuro chegue, estejamos minimamente preparado.

E de 2018 para cá, o que você citaria como um dos maiores orgulhos de vocês?

Trabalhamos para garantir todos os anos que quem participa do nosso festival, dos nossos laboratórios, seja uma boa experiência onde a pessoa entra em nossas atividades, participa dos laboratórios, workshop, e sai com a sensação de que, efetivamente, está levando a algo significativo. Então, da primeira edição até agora, é uma boa entrega de experiência, de qualidade. Tanto os participantes como os mercados, eles falam algumas coisas bem interessantes sobre o festival. O mercado vai dizer que a gente tem uma boa curadoria de talentos e de projetos, e as pessoas vão dizer que entregamos uma boa experiência, um ambiente acolhedor, somado a uma boa infraestrutura e qualidade profissional para dar o suporte que as pessoas precisam.

O que mudou de lá para cá? Qual foi a nossa maior conquista? 

Eu acho que foi criar um espaço ou consolidar um espaço onde a comunidade formada por personagens negros e audiovisual, não só do Brasil, mas da diáspora de uma maneira geral, chegue, se encontre, e saiba que ele é um espaço seguro para que elas possam compartilhar seus processos criativos, suas inquietudes, mas que também elas vão encontrar ferramentas para fazer da sua história, da sua carreira, do seu negócio, cada vez mais forte e cada vez mais potente. Acho que a maior conquista nos últimos tempos foi garantir um espaço onde as pessoas se encontrem e acessem ferramentas, processos que vão impulsionar, de fato, os seus caminhos daqui para frente. Tipo, é falar sobre representatividade.

Como veio a parceria de vocês com a Open Television?

É muito bacana você perguntar isso! A Open Television, inclusive nós tivemos reunião hoje com o Elijah e com o Fernando. Elijah, fundador da Open Television, é natural dos Estados Unidos, mas atualmente mora em Joanesburgo, na África do Sul. Fernando é mexicano e mora no México. A parceria vem a reboque de um lugar, de um funcionamento que a plataforma, que o festival tem conquistado ao longo dos anos, que a partir de Salvador se conecta com o mundo. A união da plataforma e a Open Television surge por entender que a DiALAB poderia ser esse espaço que receberia pela primeira vez no Brasil o Brave Futures, que é esse desafio de produzir um filme de curta-metragem em 48 horas. O Brave Futures também veio por indicação do Heitor Augusto, um querido amigo, parceiro, que fundou o Nishio 54, um instituto em São Paulo, que também se preocupa em pensar as questões relacionadas às personagens negras do audiovisual, e, no caso dele, eles realizam atividades, fazem pesquisas. Eles acabaram de lançar um livro chamado Cinemateca Negra, que é um livro que vai pensar essa produção artística negra que está alocada na Cinemateca Brasileira. O Heitor Augusto faz essa ponte com o Elijah aqui em Salvador durante o período do carnaval. Nós conversamos aqui no escritório e, a partir desse diálogo, fomos tecendo mais encontros até que entendemos que existia a possibilidade de trazer para a primeira vez no Brasil o projeto. Esse ano o tema de Salvador são fabulações de diversidade negra, onde esses times precisam, a partir do tema, imaginar um filme que interprete essa proposta. Eu acho também que é a oportunidade de quem está fora do Brasil enxergar o que a gente já enxerga aqui. O Brave Future vem porque há um entendimento de que Salvador é esse lugar potente e também porque existe a Portátil, a DiALAB, que sistematicamente tem feito um trabalho para se conectar com diversos territórios do mundo e trazer para Salvador iniciativas e projetos que acreditamos que dialogam com a cidade e que a cidade pode receber bem coisas diversificadas. É até uma oportunidade de mostrar o Salvador diferente do que as pessoas conhecem na televisão, porque o pessoal vem para cá, mostra o Salvador, mostra a Bahia, até o Nordeste mesmo, com a visão centrista, sulista e tal, que quando você chega aqui é totalmente diferente. É uma oportunidade dos artistas, realizadores, profissionais da cidade, de interpretar a própria cidade a partir dessa perspectiva. 

Quantos produtos serão criados durante o processo e quais as expectativas?

São seis filmes, que serão exibidos na sala do cinema, que a comunidade vai poder ver, que vai poder interagir, que depois vai ter uma plataforma onde outras pessoas vão poder acessar também, girar mundo afora. E também a possibilidade para quem for selecionado de conectar com outros territórios, de fazer com que o seu filme ganhe vida em plataformas digitais e quem sabe a partir dessa experiência outras maiores possam surgir também. Acho que é um pouco da minha esperança com a Open Television.

Agora, 48 horas. De que cabeça surgiu isso, 48 horas? Deve ser uma loucura, né? 

Então, eu acho que existem competições de produção de filme nesses moldes, mas em 48 horas eu não conheço. Obviamente que pode existir, não estou falando de ineditismo, a ideia não é essa, mas a proposta é desafiar essas pessoas a utilizarem todo o seu potencial criativo, técnico e falar assim “vou contar uma história dentro desse período”. Nós, de alguma maneira, faz isso quando a gente vai apresentar um projeto, um pitching público, apresentar um projeto para um canal. Temos uma coisa que chamamos de speed pitching ou pitch de elevador. Você tem 30 segundos para contar a história do teu filme para uma pessoa. Pitch de elevador convenciona-se de 30 segundos a um minuto, que geralmente é o tempo que o elevador leva para chegar de um ponto a oito, e a gente sempre conta a história. Se você está no elevador e o executivo da Netflix estiver lá, a sua chance é essa. É a chance da sua vida. Então, eu acho que a proposta do Brave Futures é, claro, desafiar, engajar pessoas, interagir com elas, mas é também trabalhar a capacidade de síntese, de entrega criativa, de entrega artística dentro de um recorte temporal.

Como você vê o mercado do audiovisual no Brasil atualmente? Como é que anda? 

A pergunta de um milhão de dólares, eu acho! O nosso mercado é muito interessante, mas ele oscila muito. E aí, a gente não pode pensar no mercado unicamente pensando no fomento público, que é igualmente importante, mas pensar no mercado também. Recebemos um conjunto de plataformas de streaming nos últimos anos e elas têm ditado um pouco o nosso mercado, mas também estão passando por algumas ondas dentro e fora do Brasil, que impactam um pouco o nosso mercado. Eu sou otimista, sempre, com relação ao nosso mercado. Nós temos alguns desafios, como aprovar a lei do VOD, como pensar institucionalizar as cotas de tela, pensar uma continuidade do financiamento público para a produção audiovisual… Eu falo das três esferas, União, Estado e Município. Acho que a União, de alguma forma, consiga aprovar um plano de financiamento para o longo de alguns anos, que eu acho que precisa ser replicado também nos Estados e no Município, mas, particularmente, eu sou muito otimista. Ao mesmo tempo, eu acho que temos alguns desafios dentro do nosso mercado que precisamos olhar também como estratégia, que é pensar o mercado audiovisual, composto não só por produtores de cinema, mas pelo circuito exibidor, pelas instituições que formam essas pessoas, pelas empresas que desenvolvem tecnologias para tornar as produção cada vez mais sustentável e mais ágil. É um conjunto de empresas que precisam andar de forma sustentável para que o setor se mantenha. Ao mesmo tempo que nós, dentro desse circuito, do conjunto de empresas, temos empresas de diversos tamanhos, que igualmente precisam de condições para se manter. O que eu tenho falado com meus colegas e até com o setor também é que a Agência Nacional de Cinema tem um sistema de classificação que vai de 1 a 5. Geralmente, quem tem a pontuação 1 são produtoras menores que estão começando, a pontuação 5 são produtoras maiores que produzem mais e por aí vai. Nós questionamos esse modelo de pontuação também, mas eu queria falar que é importante que todas as empresas e todos os agentes da indústria tenham condições para se manter, seja ela pequena ou grande. O que vamos fazer é olhar estrategicamente para a diversidade que o setor tem e garantir condições para que todo mundo coexiste de forma sustentável.

E na Bahia?

Acho que a Bahia vem produzindo grandes nomes no cinema nos últimos tempos. Não tem como falar do cinema e não falar de Glauber Rocha, que é esse grande nome, que nasce no interior do estado, que ganha o mundo, mas também falar de uma comunidade jovem, negra, que tem produzido cada vez mais. Precisamos olhar para essa juventude e, ao mesmo tempo, olhar para essas empresas que estão no mercado há duas décadas, há uma década, e entender como fazê-la, mantê-la com as portas abertas, produzindo, entregando. Ao mesmo tempo que temos um desafio que é que não é só nosso território, mas também em âmbito nacional, é como convocar audiência para assistir nossas produções. Essa audiência, ela está super conectada com a internet, com as redes sociais, com as plataformas de streaming, mas é pensar que estamos produzindo para o streaming, dialogando com a internet, e quem está conseguindo dialogar com esse público. Eu acho que é um esforço coletivo, como produtores de audiovisual, da indústria pública, para fomentar estudos, formas, métodos de estimular que essa aproximação exista, mas uma coisa que, para mim, é muito importante é pensar a continuidade do financiamento público para desenvolver essa indústria. Não há indústria desenvolvida se não houver política pública para desenvolver esse setor. Estava em um forum da SP Cine e Luís Toledo contou uma história muito interessante, onde o Brasil é povoado por doramas. Antes deles veio o k-pop, mas ele falava especificamente do dorama e de como isso surgiu na Coreia do Sul. Nos anos 2000, a Jurassic Park chegou na Coreia do Sul, ocupou todas as salas de cinema durante muito tempo. E aí, o governo da Coreia do Sul fez um cálculo rápido e entendeu que o fato de um filme estrangeiro ocupar todas as salas de cinema gerava um impacto na economia local que eles não poderiam desprezar. E aí esse impacto era o faturamento de Jurassic Park na Coreia do Sul era equivalente a 1 milhão de carros que deixaram de ser exportados. Eles entenderam que existia um grande mercado e começaram a trabalhar sistematicamente para fazer do audiovisual uma grande plataforma econômica, transformaram a indústria e é por isso que hoje todo mundo assiste novela coreana. Então, eu acho que é pensar que talvez a gente precise lançar um olhar estratégico sobre a força do audiovisual como uma força geradora de emprego, de renda, de recursos, de soft power. De poder fazer dessa ferramenta um meio de se comunicar com o mundo.

Como você vê o hábito do brasileiro, em partes, dar mais valor, comparecer mais ao cinema para prestigiar os filmes de comédia?

Poderia ter dar várias respostas. Podemos pensar administrando a formação de público. A França tem um trabalho de formação de público de longa data, que vai desde a escola, estimulando as crianças a assistirem uma diversidade de obras. Nós temos experiências aqui no Brasil, inclusive aqui na Bahia fazem isso também. Minha chegada ao cinema também foi através de um projeto chamado “Quartas Baianas”, que levava produções de cinema baianos para várias cidades e o primeiro filme que eu vi foi da empresa que admiro muito, a Plano 3, que produzem muitos filmes legais e viraram meus amigos. Acho que tem uma dimensão de formação de público e que precisa ampliar a oferta nas salas de cinema, a cota nas salas de cinema é importante. Tem muitas variáveis e isso vem se transformando e quem é produtor de cinema precisa entender esses códigos que estão se estabelecendo e tentar entender como dialogar com essa audiência. E é claro que quando você tem um filme muito forte, como uma campanha muito forte, que passa o tempo todo na TV, várias salas com o filme, as pessoas vão assistir, porque a oferta e comunicação direciona para ele. Se tivermos mais espaço, comunicação mais efetiva, um programa de formação que estimule, acho que é uma mudança de chave que é um pouco mais complexa.

Como você vê o valor investido recentemente pelo Governo Federal de 1.6 para o setor de audiovisual? 

Claro que esse valor vai ser investido ao longo de um período… Esse valor é muito importante, porque ele reaquece o setor, que passou por um momento muito sensível, pela pandemia e mas também pela descontinuidade de algumas políticas públicas. É importante lembrar que o audiovisual é uma indústria muito forte e estamos falando de uma perspectiva mais ampliada que além do cinema e televisão também entra o game. O valor é muito importante e bem vindo. O que precisamos refletir é como ele será aplicado no mercado e quem vai usufruir desse recurso. Para o Brasil vai ser muito importante e pra Bahia também. A gente precisa refletir como vai ser distribuído e quem vai acessar para que ele também não fique na mão apenas ou em produtoras que já historicamente tem grandes projetos, mas também que consiga estimular não só produção audiovisual, mas o parque desenvolvedor, a formação de pessoas, soluções tecnológicas de inovação para o setor e que gere renda e emprego e o brasileiro consiga se ver nas telas, mulheres, pessoas negras, comunidade LGBTQIAPN+, que as comunidades se sintam representadas. 

Como você vê o projeto de vocês no futuro?

Estamos em um processo de consultoria. Nós temos muitos sonhos. É um pouco de sonho e um pouco de ambição. O que nós temos feito hoje é pensar o que faz sentido daqui há dois anos. O que entendemos é que precisamos ampliar nossa audiência. Já temos um desenho disso, tanto de público quanto profissional. No futuro, queremos dialogar com mais pessoas, colocar Salvador como centro das discussões, fazer desse território um ponto de referência para discutir audiovisual, para fazer negócios, discutir perspectivas de tendências e políticas e dialogar com mais pessoas. A gente quer ampliar a rede de parcerias e pensar a nova geração.

Como as pessoas podem achar a Dialab?

Estamos no Instagram, no @dialab.me, onde publicamos coisas semanalmente, no email emerson@portatil.co (não tem m no final), ou dialab@dialab.me e o site dialab.me. Agradeço a vocês pelo convite para este papo! Sempre gosto de falar sobre a plataforma e os desafios. Em dezembro estamos planejando uma programação bem legal, com 9 dias de atividades com gente do mundo todo, principalmente de Salvador. Estamos bem animados!

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