Que mundo você deseja construir? Está aí o principal questionamento de Cabrini, drama biográfico baseado na história de Francesca Cabrini, religiosa italiana padroeira dos imigrantes, canonizada em 7 de julho de 1946 pelo Papa Pio XII. Uma imersão história surpreendente, com direção de Alejandro Monteverde, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28) pela Paris Filmes.
Baseado na vida real de Francesca Cabrini, aqui vivida de forma impressionante por Cristiana Dell’Anna, o novo trabalho de Monteverde, responsável pelo polêmico Som da Liberdade, explora a vida da missionária em sua missão na cidade de Nova York. Ela tem como causa ajudar a dar uma vida mais digna aos pobres e imigrantes, que são tratados sem qualquer dignidade, principalmente pelos responsáveis por governar o local. A “grande maçã” é apenas o enunciado do projeto de vida de Cabrini, que tinha como seu desejo inicial um trabalho social na China, desejo este negado por seus superiores na igreja católica.
Mais que uma biografia, Cabrini é uma obra sobre fé e feminismo no século XIX. Logo de início, vemos como as árduas e cansativas tentativas da freira em ter a permissão do Papa para abrir um orfanato em Pequim. Fica evidente o principal motivo de recusa: ela é uma mulher. E ser mulher irá custar a Cabrini muito em sua estrada, já que os homens comandavam, ditavam regras e diziam como elas deveriam se comportar. Mesmo com tantos obstáculos, a irmã não se intimidava e seguia acreditando que poderia transformar o mundo através da bondade, amor e fé. A luta da religiosa se torna ainda mais inspiradora ao termos conhecimento que ela vivia com sequelas de uma tuberculose. Seus pulmões fracos faziam de alguns dias mais difíceis e causavam preocupação em suas irmãs de missão. Mesmo assim, Francesca colocava sua luta por um mundo mais justo à frente de tudo e deixar de lutar não era uma opção.
Para ajudar a contar a trajetória de Cabrini, temos a ajuda de alguns personagens que, mesmo sem tanto aprofundamento em suas vidas, são cativantes. Entre eles está Vittória (Romana Maggiora Vergano), uma jovem italiana que cresceu sem família em Nova York, teve que se prostituir para sobreviver e encontrou na religiosa um coração amigo e a oportunidade de ter uma nova vida. Também temos o pequeno Paolo (Federico Ielapi), que perdeu a mãe por ter socorro médico negado e passou a viver nas ruas da cidade americana, até ser acolhido no orfanato.
Toda história precisa de um bom vilão e em Cabrini ele é o prefeito Gloud. O chefe maior de Nova York é vivido com maestria por John Lithgow. O empenho em manter uma imagem da cidade onde os imigrantes italianos e pobres são invisibilizados não tem limites. Seu duelo com a religiosa no longa é em grande parte feito por intermédio de outros personagens, mas o principal embate é um dos pontos altos e entrega a frase mais emblemática da obra: “Um homem não faria o que nós fizemos”.
Antes de findar, não há como deixar de comentar a entrega de Cristiana Dell’Anna. Com 7 anos de carreira e 10 filmes, atriz italiana de 39 anos soube conduzir a trama com as nuances pedidas pelo texto, migrando da delicadeza para a força, da determinação a vulnerabilidade, além de saber dividir espaço com seus grandes colegas de elenco. Sua atuação é digna de ser lembrada como uma das mais assertivas quando o assunto é cinebiografia, nos fazendo pensar “acho que Cabrini era exatamente assim!”.
Cabrini é apenas um recorte da vida de Francesca, mas o suficiente para mostrar como o amor ao próximo pode ser a chave para transformar o mundo. É algo que vai muito além da religião e traz inspiração e o sentimento de esperança de dias melhores. Por fim, te faz sair da sala se questionando “que mundo você deseja construir?”. Já pensou nisso?
NOTA: 4/5
Confira o trailer: