“Vocês sabem por que Janeiro Branco?” Esta foi a primeira pergunta da palestrante para uma plateia atenta e questionadora com cerca de 50 profissionais de saúde que, na maioria das vezes, dedica o seu tempo para cuidar do outro, em jornadas duplas ou até triplas de trabalho. Nesta área, infelizmente, é comum o profissional ter mais de um vínculo empregatício e emendar plantões. Nesta realidade, que há cansaço físico, é fato e claro. E o cansaço emocional, como fica? Como fica a saúde mental?
Para falar sobre isso, trocar ideias, sentimentos e experiências, o grupo passou parte da tarde do dia 30 de janeiro, sob a condução da psicóloga Chris Gomes. “Chris”, numa forma carinhosa e mais íntima, porque ela também já foi colaboradora do Hospital Espanhol, na pandemia, e conhece bem o estresse emocional de se atuar numa Unidade exclusiva para atendimento de pacientes com Covid.
Mas vamos voltar à primeira pergunta da palestra e à explicação dada pela psicóloga: “A origem do nome janeiro vem de Jano, Janus – em latim, Deus romano, mediador entre tempos diferentes, protetor dos inícios e dos fins. No primeiro mês do ano, costumamos, simbolicamente, traçar metas, começos ou recomeços. Sendo o começo de uma nova etapa, temos uma folha em branco, limpa para escrever mais um capítulo da nossa história”.
O Janeiro Branco entrou na paleta colorida anual do Calendário da Saúde, em 2014. Foi criado por um grupo de psicólogos mineiros, dentre eles Leonardo Abrahão que percebeu a necessidade de se alertar a população sobre os cuidados com a saúde mental. E a Campanha Branca foi logo reconhecida pela OMS que considera o corpo, o espírito e a mente como os pilares básicos para o equilíbrio da saúde mental.
Doença Mental é individual com consequência coletiva
As doenças de caráter mental, como a depressão, a ansiedade, a Síndrome do Pânico, tantas vezes não são percebidas ou assumidas. Por falta de conhecimento e informação, por medo da incompreensão, por vergonha dos julgamentos. A falta de diagnóstico e acompanhamentos médicos, terapêuticos, psicológicos, podem fazer o problema crescer como uma bola de neve, causando graves consequências pessoais, familiares, profissionais e sociais para o indivíduo acometido e pessoas dos seus ciclos.
A psicóloga Christianne Gomes lembra que saúde não significa ausência de doença. Há falta de saúde, em condições não perceptíveis de forma clara. “E o profissional de saúde, que lida diretamente com doenças, precisa estar bem, para poder cuidar bem. Do contrário, ele não vai prestar uma assistência de qualidade. Fazemos esta associação, ao que acontece numa viagem de avião, onde há a orientação para que, em caso de despressurização, pane ou emergência, primeiro devemos colocar a nossa própria máscara, para depois ajudar o outro. Assim deve ser o nosso cuidado pessoal.”
Aline Luquini, Coordenadora de Nutrição do HE, atenta à palestra, sentada na primeira fila, reforçou esta colocação, quando afirmou que: “Só vamos conseguir auxiliar o próximo se, primeiramente, voltarmos o olhar para o nosso interior e para nossa saúde, sobretudo a mental”.
O tema do Janeiro Branco 2023 é o Equilíbrio. “Tendo em vista que o ser humano é um ser integral, uma saúde mental equilibrada ancora-se nos pilares físico, mental e espiritual que devem atuar em harmonia na nossa vida” – explica Chris Gomes.
Quem cuida da mente, cuida da alma
A Coordenadora das Enfermarias do HE, Rebeca Cunha, com o apoio da colega e também enfermeira Kelly Menezes, distribuiu para suas equipes um mini kit com balinha e um card contendo “10 dicas para cuidar da sua saúde mental”, enfatizando que quem cuida da mente, cuida da alma. “Nada mais assertivo que, enquanto instituição, voltemos o nosso olhar, o nosso cuidar para os NOSSOS. Acender o pisca-alerta interno de cada um de nós para o entendimento que o amanhã só será possível com o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Como foi muito bem explanado e elucidado pela palestrante de hoje, Christianne Gomes” – ressaltou Rebeca.
A palestra foi organizada pelo NEPS – Núcleo de Educação Permanente em Saúde do Hospital Espanhol e o convite à palestrante feito pela então Gerente Operacional do HE, enfermeira Claudiana Pereira. Patrícia Fontes, enfermeira do NEPS, considerou a palestra importante, independente de ser Janeiro Branco. Para que a equipe pudesse escutar a necessidade de cuidar da saúde mental, entender que a instituição presta atenção aos colaboradores que estão há três anos enfrentando as nuances da pandemia e passando no contexto atual pós-pandêmico com sequelas em todos os níveis. Além de alertar sobre a existência da síndrome de depressão pós-covid. “Lidamos com a irregularidade da saúde mental, com transtornos diários e rotineiros que podem nos levar a um desequilíbrio psíquico e emocional” – alertou Patrícia Fontes.
“Cuidar e estar atento à nossa saúde mental deve ser feito o ano todo e não somente no Janeiro Branco”, pediu Christianne Gomes. Para ela, este cuidado com quem cuida é o cuidar da matéria-prima da assistência na saúde, que é o profissional. Isto é motivador. E profissional motivado agrega resultado.
O Janeiro Branco dá as boas-vindas ao Fevereiro Roxo, mês da conscientização do lúpus, do Mal de Alzheimer e da fibromialgia. Doenças diretamente relacionadas à Saúde Mental. E qual doença não é?… Fica a dica: “mens sana, corpore sano”, do latim. Mente sã, corpo são, para todos nós!