De tempos em tempos, o cinema boa apresenta projetos que te chocam profundamente, e ao mesmo tempo despertam um interesse profundo pelos personagens, além da curiosidade sobre os motivos que desencadearam certos eventos. “Até os Ossos”, do diretor italiano Luca Guadagnino, é uma dessas produções intrigrantes.
Com uma trama de horror emaranhada por um romance nascido de algo nada convencional, temos a protagonista é Maren (Taylor Russell), uma jovem vive com o pai na Virgínia, dos anos 1980. Lógico que tudo começa muito bem, como qualquer filme de uma cidadezinha normal, mas que não demora muito a mostrar a que veio. Com o despertar de uma espécie de maldição (ou algo do tipo), Maren tem toda a sua vida de cabeça para baixo, com a necessidade de mudar de cidade para não pagar pelo que fez. Na busca por descobrir quem é, a “heroína” parte em uma jornada pelos EUA e, no meio de sua jornada, encontra Lee (Timothée Chalamet), peça em importante para que ela siga em busca de respostas.
Após o primeiro ato de canibalismo da protagonista, o que se espera é uma sequência de cenas chocantes. De fato, há algumas delas, até de revirar o estômago. Uma delas é protagonizada por Sully (Mark Rylance), o primeiro contato de Maren com uma pessoa que divide o mesmo hábito. É justamente ele que explica para a menina um pouco do que ela está passando e lhe abre a mente para algumas habilidades que ela até então não sabia. O senhor, que apesar de voz branda, também possui uma personalidade instável e obsessiva, relata também o ápice do que praticam, o que nós leva ao título da jornada.
Se em Sully a jovem Maren vê alguém em quem não pode confiar, Lee é o oposto. O segundo de sua “espécie” com quem tem contato, o problemático brapaz se mostra o parceiro que ela precisava para seguir viagem. Uma amizade é iniciada e com o passar do tempo desperta sentimentos mais profundos em ambos. Com a sequência de acontecimentos a trama parece tentar transmitir que há beleza e amor no terror. O único problema e que o relacionamento se torna superficial, sem se aprofundar o suficiente para criar uma ligação com quem assiste. Os sentimentos de Maren em relação ao pai, que a abandona após o despertar de seus atos, e sobre sua busca implacável pela mãe, é no que mais traz emoções em tela, mesmo que eles sejam breves e disputem atenção com outros acontecimentos.
Em “Até os Ossos” temos uma ótima obra técnica. A fotografia é de encher os olhos, com tudo muito bem pensado e organizado. As imagens em plano aberto te fazem viajar junto com a dupla de aventureiros e se sentir curtindo um por do sol na beira da estrada. A palheta de cores frias dão o tom que a trama precisa para transportar o telespectador para a época em que tudo acontece. Há também as referências às músicas e outras elementos da cultura que marcaram os anos 80. Tudo é muito bem ensaiado, posicionado, editado. O único problema é que o roteiro não entrega explicações mais concreta sobre o hábito da protagonista e dos parceiros que ela encontra no caminho.
Por fim, “Até os Ossos” é sedutor aos que curtem filmes do gênero e flerta com o público mais jovem através de seu casal de protagonistas. O diretor consegue equilibrar gêneros diferentes sem perder a essência, além de causar um mix de sensação a quem assiste. Uma produção promissora que chega aos cinemas nesta quinta-feira (1).
Por Robson Cobain