Não é ao acaso que a próxima exposição do Museu de Arte Moderna (MAM-Bahia), ENCRUZILHADA, terá vernissage numa segunda-feira, às 18h do dia 18 de abril próximo, em Salvador. Para a cultura afrobaiana a segunda-feira é dedicada a Exú e a encruzilhada é um local sagrado, de oferenda para esse Orixá mensageiro entre o orum (céu) e o aiê (terra), a quem deve ser oferecido o primeiro agradado em qualquer ritual do Axé.
A mostra que ocupa os espaços expositivos da Capela e do Casarão do Solar do Unhão, propõe um diálogo entre o acervo moderno e contemporâneo do Museu e a Coleção de Arte Africana Claudio Masella do Solar do Ferrão (Dimus/IPAC). Na curadoria estão: o prestigiado artista visual baiano, Ayrson Heráclito, e o curador do MAM, Daniel Rangel. ENCRUZILHADA é a segunda exposição que o MAM-Bahia faz em período de pandemia controlada. A mostra ‘O Museu de Dona Lina’ foi aberta em agosto do ano passado (2021) e terminou em fevereiro deste ano (2022) com um total de aproximadamente 70 mil visitantes, com uso e obediência de todos os protocolos das secretarias de Saúde, municipal e estadual, e do Ministério da Saúde.
CRONOGRAMA INTENSO – A previsão é que ENCRUZILHADA dure quatro meses (até 14 de agosto) e que a frequência de público aumente ainda mais devido aos últimos decretos públicos que flexibilizam o uso de máscaras em áreas abertas e aumentam o número de pessoas em espaços culturais. “O museu é muito procurado pois além das exposições e de ser ponto turístico, tem ainda cinema, café, livraria, projeto de gastronomia e música, além das atividades educativas e outras ações”, explica o diretor do MAM-Bahia, o gestor cultural Pola Ribeiro. Ele informa que se a procura por ENCRUZILHADA for muito grande, a exposição pode até ser prorrogada.
Pola Ribeiro relata que entre abril e agosto (2022) o cronograma de atividades será intenso. “Além da exposição ENCRUZILHADA, o MAM terá o Acervo da Laje (www.acervodalaje.com.br) no nosso Programa de Residências Artísticas, em maio dois shows previstos da ‘JAM no MAM’ (www.jamnomam.com.br), três cursos gratuitos nas ‘Oficinas do MAM’, o projeto ‘Museu-Escola’ com a Secretaria de Educação (www.educacao.ba.gov.br), além de dezenas de atividades e pesquisas com professores e alunos da UFBA, via termo de cooperação que assinamos com o vice-reitor, Paulo Miguez, e uma parceria com a UNIJORGE para esse segundo semestre”, finaliza o diretor.
CONTEXTO e EMERGÊNCIAS COTIDIANAS – Para o curador da mostra ENCRUZILHADA, o artista Ayrson Heráclito – também professor da UFRB e ogã – a exposição apresenta uma dinâmica dialógica entre um vasto acervo de sujeitos criadores. “É uma reunião de artistas de diversos contextos históricos, sociais e raciais que articulam tensões na produção de visualidades, cuja centralidade dos seus interesses criativos é ativada a partir do universo das culturas afrodiaspóricas”, diz o curador.
Segundo o curador Daniel Rangel – também ogã –, a proposta da mostra traz uma conexão material-espiritual espaço-temporal que busca revelar a potência da presença africana na produção artística brasileira, do modernismo ao contemporâneo. “Teremos também temas que transitam entre o sagrado e as emergências cotidianas, e ainda, referências estéticas e abordagens de cerca de 18 etnias provindas de diferentes regiões da África”, afirma Daniel.
ETNIAS e LEGADO – A Coleção Claudio Masella de Arte Africana é formada por objetos que representam etnias de 15 países da África, como máscaras, estatuetas, instrumentos e utensílios, confeccionados em materiais que variam entre terracota, madeira, metal e marfim. A coleção completa atinge mais de 1000 peças. Esse acervo é caraterizado pela riqueza e diversidade da produção cultural africana do final do século XIX e do século XX, expressada em objetos, sobretudo máscaras, escultura de diversos grupos e localidades do continente africano.
O industrial italiano Claudio Masella (1935-2007) morou durante 35 anos na Nigéria e Senegal, onde montou fábricas de móveis. A sua paixão pelas artes e tradições africanas o fez colecionador. Casado com a brasileira de Pernambuco, Conceição Ramos, em viagem ao Brasil, conheceu a cidade do Salvador e se encantou com a presença do legado africano em nossa cultura. Em 2004 doou sua coleção ao Governo do Estado, o que fez ter seu nome homenageado oficialmente nesse acervo.
REFLEXÃO, TEMPOS e ESPAÇOS – “Reunimos nessa exposição um amplo debate público na ‘encruzilhada museu’, considerando museu enquanto um espaço de encruzilhada, desde as abordagens de antropólogos visuais a artistas de diferentes cores, diferentes origens étnicas e lugares de fala, até artistas-sacerdotes e um amplo panorama da chamada arte jovem-preta-afro-brasileira”, relata Ayrson Heráclito. Ele considera que tal opção curatorial contribui para a reflexão significativa sobre os fenômenos identitários em encruzilhadas diaspóricas.
“Após a exposição ‘O Museu de Dona Lina’ (Ago/21 a Fev/22), que trouxe o popular, o moderno e o contemporâneo, lado a lado, seguimos mais uma vez os passos de Lina Bo Bardi (1914-1992), e iluminamos outra produção que passou anos fora do museu, ou dos museus, em geral”, acrescenta Daniel Rangel. Para ele, a ENCRUZILHADA reconhece o MAM como um histórico local de encontros, desde o trapiche do século XVII até o museu da atualidade. “É um espaço de chancela de fazeres, diálogo entre artistas, obras e público”, diz Daniel. Como também de especial significação para a cultura afro-brasileira e para os artistas baianos, de misturas de linguagens e coleções, de conexão entre regiões e de representações fora do eixo. “Tudo encruzilhado em vários tempos e espaços”, finaliza Rangel.
EXPO VIRTUAL, CATÁLOGO e HORÁRIOS – Os interessados de qualquer lugar do mundo ainda podem acessar a mostra ‘O Museu de Dona Lina’ pela internet via link http://virtual.mam.ba.gov.br/ que esteve em cartaz no MAM. A exposição ainda tem a ‘Galeria de Artistas e Obras’ com fotos e minibiografias no link http://www.mam.ba.gov.br/gallery/o-museu-de-dona-lina/. O MAM dispõe do seu ‘Catálogo’ em formato virtual com acesso na barra superior do site www.mam.ba.gov.br no link ‘Acervo’. Livros e catálogos do Museu são adquiridos na Livraria do MAM: @caramure, www.caramure.com.br e (71) 98462-5039.
O museu funciona de terça a domingo, das 13h às 18h, mas o Cine MAM e o Café Saladearte (http://saladearte.art.br/) ficam abertos todos os dias, das 12h às 22h. Já o projeto Sollar Baía (@sollarbaia, música/gastronomia) termina no final de abril. A exposição ENCRUZILHADA tem acesso gratuito e está aberta de terça a domingo, das 13h às 18h. Acesse: www.mam.ba.gov.br, redes sociais (instagram e facebook) ou telefone (71) 31176132 e 31176139 (segunda a sexta, 9h às 12h e 13h às 15h). O MAM é um equipamento da Secretaria de Cultura/IPAC.