CINEMA DESTAQUE

CRÍTICA: Robert Pattinson vive a versão mais sombria do Batman

Há sempre uma grande expectativa quando um personagem clássico vai ganhar vida na interpretação de um outro ator. A pressão é enorme e pode até chegar a prejudicar no desempenho de quem topar ser esta nova versão. Em Batman (The Batman), que entra em cartaz nesta quinta-feira (3), Robert Pattinson fez da expectativa uma arma para levar às telas a vertente mais sombria do vigilante, em uma trama policial repleta que mescla ação e suspense, com forte reflexo da realidade que o mundo vive. 

Para começar, vale ressaltar a ótima sacada do diretor Matt Reeves em não voltar ao passado para abordar a morte dos Waynes e o treinamento de Bruce para se tornar o Homem-Morcego. Aqui nós já acompanhamos o justiceiro em seu segundo ano de ação pelas ruas da caótica Gotham. Robert é preciso em seus gestos e falas, apresentando um jovem ainda ferido com a forma como perdeu os pais, vivendo praticamente sem convívio social. Suas únicas companhias constantes são seu mordomo, Alfred (Andy Serkis), e seu contato na polícia local, Jim Gordon (Jeffrey Wright). A solidão causada pela morte de Thomas e Martha reflete muito no comportamento de Bruce, que não tem um equilíbrio entre o trabalho noturno e a manutenção da imagem do nome Wayne, a tradicional família filantropa da cidade, o que é cobrado dele por figuras políticas do local. 

Quase uma cópia fiel dos quadrinhos, o Batman de Reeves e Pattinson é provavelmente o mais agressivo já apresentado nas telonas. O lado heroico do Homem-Morcego, retratado em outras oportunidades, é mais um pano de fundo nas ações presentes aqui. Outro ponto a se destacar são as pancadas que o herói recebe, já que nem tudo são flores na luta contra os inimigos. Falando em combate, as lutas são precisas e muito bem coreografadas, com sequências que impressionam pelos detalhes técnicos. 

Nesta nova empreitada do Morcego de Gothan, seu principal adversário é o Charada. Assim como acontece com o protagonista, encontramos uma versão do vilão que se diferencia do já apresentado em outras ocasiões. O ator Paul Dano nos serve uma fatia mais perturbada do personagem, brutal em seus atos e conquistou uma legião de admiradores com seus misteriosos vídeos de enigmas com teor terrorista. Suas ações durante as quase três horas de filme (que passam sem você nem perceber) dão o tom de suspense e quase te transportam para os jogos da franquia. 

O elenco escolhido para Batman foi realmente um trabalho primoroso. Zoë Kravitz parece ter nascido para viver a Mulher-Gato. Sua Selina Kyle é repleta de camadas, com altas doses de sarcasmo e sensualidade equilibrada. Colin Farrell está praticamente irreconhecível como o Pinguim, em uma apresentação memorável do vilão. John Turturro é preciso em sua atuação como o mafioso Carmine Falcone, inserindo todo o poder que o personagem precisa, já que se trata de um dos maiores nomes do crime em Gothan.

Com sua estética sombria, Batman consegue ir além dos filmes do gênero ao focar no real, tantos nas ações dos personagens, quanto as consequências delas.  Além disso, faz cair por terra algumas questões que envolvem a família de Bruce, o que também tem grande influência nas ações do Charada. Os recursos utilizados pelo Homem-Morcego também são mais limitados, principalmente por ser o início de sua “carreira” como vigilante e, mesmo que sejam eficazes ou evoluídas tecnologicamente falando, são bem pé no chão. 

O novo Batman é milimetricamente feito para ser o que é: um ótimo filme de herói. A diferença é que ele se sustenta mais no roteiro e atuação que em grandes espetáculos de efeitos especiais e longas batalhas. E, para os que torciam contra o Robert Pattinson, ele conseguiu se blindar da maré negativa que surgiu desde que seu nome foi anunciado.

Por Robson Cobain

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